A obra de Alcântara Machado deixa uma fresta na construção dos personagens em relação ao uso superficial da psicologia para caracterizá-los, limitando-se à criação de tipos que talvez pudessem esconder o lado preconceituoso do escritor paulista com relação aos imigrantes, fato reforçado pela falta de convivência com estes. Por outro lado, deve-se levar em consideração que a obra não se impõe como uma sátira ao modo de viver estrangeiro e que, portanto, não pretende aprofundar as personalidades destes personagens, mas sim demonstrar de que maneira eles influenciaram na constituição da sociedade paulistana desde aquela época e que é evidenciada até hoje.
Diante disso, a construção dos personagens nos contos de Alcântara Machado surge de maneira dinâmica durante o desenrolar das ações do enredo, de maneira muito simples, privando-se do uso exagerado de adjetivos, cedendo lugar aos dados concretos que vão caracterizar os personagens cinematograficamente:
“Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo.
- Subito!
Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. (...)“.
Em Gennarinho, o detalhe do nariz do escorrendo, denota a falta de polidez do personagem, em oposição aos elementos que compõem seu visual. Embora quisesse parecer ‘fino’, sua caracterização se torna rude, ironicamente:
“Gennarinho desceu na estação da Sorocabana com o nariz escorrendo. Todo chibante. De chapéu vermelho. Bengalinha na mão. (...) com a cabeça para fora do automóvel soltando cusparadas. Apertou o dedo no portão. Disse uma palavra feia. Subiu as escadas berrando.
- Tire o chapéu.
Tirou
- Diga boa noite
Disse.
- Beije a mão dos padrinhos.
Beijou.
- Limpe o nariz.
Limpou com o chapéu.
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